Postado em 11 de Novembro de 2013, por Kina Poon

Durante sua vida como bailarino, você escutou as mesmas correções repetidas vezes. O motivo para tantas correções? Bailarinos tendem a fazer os mesmos erros, e na maioria das vezes, os resultados são catastróficos. A Revista Dance Magazine conversou com oito professores sobre quais seriam os piores hábitos – aqueles que podem destruir a técnica de um bailarino – e o que pode ser feito para reverter os estragos.

1) Rolling In / Rolar para dentro
Rolling In
errado… certo

Para conseguir uma primeira posição de 180 graus, bailarinos tendem a deixar que os arcos dos seus pés rolem para frente. Mas para conseguir um belo en dehors não devemos forçar os nossos pés para eles abrirem, devemos forçar esta abertura nos quadris “En dehors é uma ação, uma atividade e não uma posição.” disse Irene Dowd, que ensina anatomia na famosa escola Juilliard, em Nova York. “Se pararmos de sustentar o movimento, nossos pés irão passivamente rolar para dentro.” Rolar para dentro gera estresse nos tendões dos pés e leva a lesões, porque o resto do corpo compensará o desequilíbrio causado pelo fato de seus joelhos não estarem alinhados com seus dedos.

Dowd alerta sobre usar somente o arco do pé para combater o rolar para dentro. “Os bailarinos irão tentar virar apenas o arco do pé e forçar o interior do tornozelo,” ela disse. Isto pode provocar a inflamação dos tendões do tornozelo e levar à uma tendinite, uma lesão dolorosa causada por esforço repetitivo, muito comum em bailarinos. O sentimento é de “Pés como móveis da Era Vitoriana – eles nunca estarão completamente em contato com o chão” e eles deveriam estar ancorados em três áreas: o calcanhar, a almofada do dedão e a almofada do dedinho. Imagine como seu peso será transferido para o chão, de cima para baixo, através do seu corpo, pelas pernas, ao invés de prender os pés no chão e levantando o arco.

2) Misaligning the Spine / Desalinhamento da coluna

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errado… certo

Distorcendo as costas, quer seja por trituração das vértebras lombares e, assim, permitindo que a caixa torácica fique aberta, ou arqueando os ombros para a frente e soltando os quadris, empinando o bumbum, afetará todo o seu corpo. A colocação do torso adequadamente é fundamental para a realização de qualquer movimento. Um bailarino com as costas desalinhadas irá desenvolver outros pecados capitais técnicos do ballet. Os problemas podem repercutir em todo o caminho: nas extremidades e, em cima, atingindo o pescoço e cabeça. Se o núcleo está solto, o bailarino será incapaz de fornecer apoio essencial para a que a técnica seja aprendida. A pélvis que ou está projetada para frente, ou vai para dentro, irá limitar a amplitude de movimentos nos quadris.

Christine Spizzo é uma estudante da North Carolina School of the Arts e está constantemente trabalhando o seu placement (palavra usada para designar a perfeita colocação corporal em sentido amplo). “É o comando mais importante que você tem que dar para o seu corpo, mais do que qualquer outro.” diz ela, “é cóccix para baixo e os músculos do abdômen levantados.” Ela enfatiza que o cóccix alonga para baixo sem dobrar, e os músculos umbigo levantam para cima, não para dentro. Esta oposição permite que os músculos rotadores externos possam participar ativamente, na parte superior da coxa. Spizzo usa a expressão dos 4 Ts —“no tucking, tipping, tilting, or twisting of the pelvis” – traduzindo “não comprimir, inclinar, tombar ou torcer a pelve” – como um lembrete para os alunos.

3) Clenching the Toes / Apertando os dedos do pé

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errado… certo

Apertar, enrolar, prensar, não importa como que é chamada, esta condição dificulta a capacidade de um bailarino de articular os pés. Cerrar os dedos dos pés cria uma plataforma instável para gerar equilíbrio, trazendo problemas para o resto do corpo. Os músculos e tendões do pé, joelho e tornozelo devem trabalhar juntos para realizar uma relevé ou saltar, diz Edward Ellison, diretor da Ellison Ballet Professional Training Program in New York. Dedos cerrados acarretará num estresse indesejado sobre as articulações das pernas, levando a lesões por repetição e desequilíbrio. Nas pontas, apertar os dedos pode danificar os ossos e tendões dos pés.

A maître de ballet, Sara Neece da Ballet Arts, em Nova York, diz que quando a primeira articulação do dedo do pé é pressionada para baixo no chão, com muita força, irá gerar um congestionamentos dos dedos do pé no metatarso. Para Neece, a chave para solucionar os dedos cerrados encontra-se em “trazer para a consciência aqueles tendões que não estão sendo utilizados” abaixo da segunda articulação, ensinando os dedos como trabalhar de uma forma cuidadosa e deliberada. Sentada, uma bailarina deve beliscar em volta de cada dedo do pé apertado, com sua unha, cerca de 20 vezes. Em uma cadeira com o pé no chão, ela deve arrastá-lo de volta para o corpo, lentamente elevando-a na meia-ponta com um arco forçado. Os professores devem prestar atenção à resposta dos pés para este trabalho localizado, uma vez que a sobrecarga dos tendões pode danificá-los. Outra maneira de ensinar os dedos a esticar é enrolar com uma fita, alternando-o para baixo e para cima dos dedos, a partir do segundo dedo do pé, deixando-a durante as atividades na barra e outras atividades que não envolvam dança.

4) Giving In to Extreme Hyperextension / Ceder ao extremo da hiperextensão

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errado… certo

Pernas hiperextendidas são aquelas cujo os joelhos naturalmente se curvam para trás das coxas e dos músculos da panturrilha. Elas são muito valorizadas no mundo do ballet.
Christine Spizzo fala feliz da sua linha de perna moderadamente hiperestendida, e como as suas pernas se encaixam confortavelmente na quinta posição, e como o arabesque fica muito bonito, com ligeira curva para cima, compensando o arco do pé não tão avantajado. No entanto, bailarinos com extrema hiperextensão devem ter um cuidado especial. “O bailarino hiperestendido tende a ter músculos rotadores externos fracos”, diz ela, assim como as pernas são mais propensas a entrar em colapso quando aterrissam de um salto, deixando cair o peso corporal sobre os joelhos. Isto pode resultar em danos para as articulações que mantêm o alinhamento da perna, incluindo torção nos joelhos e tornozelos. Mesmo se a bailarina entende como evitar a hiperextensão, ela tem que aprender a expressar-se plenamente enquanto restringem suas pernas.

Mas Spizzo aponta para bailarinos, como estrela internacional Sylvie Guillem, que usou sua extrema hiperextensão em sua vantagem. O bailarino tem que pensar em alongar em vez de endireitar ou bloquear os joelho, mesmo se ele sinta que eles estão levemente dobrados. Ela deve desenvolver uma maior consciência dos músculos do en dehors, da parte superior da coxa até a panturrilha. “Os músculos devem ser ativados para não permitir que o bailarino ceda à hiperextensão”, diz Spizzo. Ela usa a imagem do poste das barbearias para incentivar bailarinos a aplicar a sensação de uma espiral infinita em suas pernas. Práticas como o Pilates podem ajudar a fortalecer os músculos estabilizadores do en dehors. Spizzo insiste que os bailarinos devem ficar com os calcanhares juntos na primeira posição e nunca devem forçar a articulação do joelho. Para fazer isso, “o quadríceps deve permanecer macio. Pois se você forçar, a rótula poderá retornar perigosamente para sua cápsula. ”

5) Using Unnecessary Tension / Uso desnecessário de tensão

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errado… certo

“Tensão”, diz Daniel Lewis, reitor da New World School of the Arts, “tira você do seu equilíbrio. Ela aperta os músculos e causa prejuízos. “Músculos rígidos são músculos propensos a lesões, que fazem que o movimento livre e confiante seja impossível.

A rigidez indesejada também pode limitar a sua versatilidade como um bailarino. “A dança moderna está preocupada com a tentativa de ir para o espaço fora do centro e fora do equilíbrio”, diz Mary Cochran, presidente do departamento de dança no Barnard College. “Se você gastar muito tempo segurando seu corpo rigidamente, será difícil fazer a transição entre trabalhar no equilíbrio e trabalhar fora do equilíbrio.”

A respiração ritmada ajuda a dissipar a tensão. Procurar um ritmo para a sua respiração usando a dinâmica da música. Sustentar uma sensação de movimento no corpo, mesmo quando você está imóvel.” aconselha Cochran. Se assim o fizer, ajudará a reverter a memória muscular de usar a tensão como uma forma de criar estabilidade.

6) Pinching Your Shoulder Blades / Unir os omoplatas

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errado… certo

Embora seja utilizada como uma estratégia para abrir o peito na frente, apertar as suas omoplatas, acaba por imobilizar a parte de trás. O musculo serrátil anterior ao lado de sua caixa torácica é tão sobrecarregado, que não pode trabalhar. Edward Ellison diz que omoplatas pinçadas impedem a liberdade dos braços e o apoio da parte superior da coluna. Ele sente que “elas fazem com que o peso do seu corpo caia para atrás de seu eixo e estica os músculos do trapézio e romboide das costas.”

Irene Dowd sugere que devemos pensar em alargar as pontas dos ombros para o lado, para permitir amplo espaço para o peito. “Isso ajuda a pensar que o peito está cheio com seus pulmões, o seu coração, todos esses órgãos, como uma grande esfera”, diz Dowd. “Precisamos ter espaço suficiente para todos estes órgãos preciosos, para respirar.” Para relaxar as omoplatas, ela diz aos estudantes para se concentrarem no movimento das mãos. “A mão é uma parte viva do meu ser?” Dowd questiona seus alunos. “A omoplata deve apoiar essa mão.”

7) Getting Stuck in a Rut / Ficar preso em um barranco

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Enquanto maus-hábitos físicos impedem o progresso, o pecado mais mortal está em perder a unidade para melhorar a técnica como um todo. Franco De Vita, diretor da American Ballet Theatre’s Jacqueline Kennedy Onassis School, diz que uma boa técnica começa com a abordagem de um bailarino para a aula. Estar presente e focado permite que o bailarino aprenda as combinações rapidamente e corretamente. “Não escutar e mudar o exercício é inaceitável”, diz De Vita.

Michael Vernon, presidente do departamento de ballet na Universidade de Indiana, sente que a pior coisa que um bailarino pode fazer é ficar fixo em fazer algo de certa forma, estar na zona de conforto. Eu amo jovens bailarinos que entendem que você tem que dançar para o amanhã, e não para ontem. “Manter a mente aberta significa mais do que apenas tentar uma preparação diferente para uma pirueta. “Estar aberto a novos estilos de dança e novas maneiras de mover o corpo é vital para manter a arte relevante.”

Kina Poon contribui para Dance Magazine.
Fotos de Skylar Brandt, membro do corpo de baile do American Ballet Theatre, tiradas por Erin Baiano para a Dance Magazine.
Tradução: Thaís Barata Sadeck
Original: http://dancemagazine.com/news/The_Seven_Deadly_Sins/

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